terça-feira, 28 de junho de 2011


Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz existe tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçaram outros dedos e tu desabrocharás para madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande intimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações, do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, tua voz ausente, a tua voz serenizada.


                                        Ausência-Vinicius de Morais

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